"Sinto demais, e sinto muito, sinto tanto que não tenho palavras para dizer o quanto sinto."
⠀⠀Sinto demais, e sinto muito, sinto tanto que não tenho palavras para dizer o quanto sinto. Na época em que fazia terapia, minha terapeuta dizia que eu não era capaz - ou tinha dificuldades - para identificar meus sentimentos, nomeá-los, rotulá-los. E eu sempre me achei muito bom nisso, afinal, não os via como tantos, mas com os quais estou acostumado a lidar, logo, não são tantos, estou acostumado, adaptado, resignado a eles; agora percebo serem muitos. Percebi que meu caso - para não dizer problema - é sentir tanto a ponto de não existirem palavras na escrita que consigam concretizar tudo isso, mesmo sentindo e entendendo essa dança louca que fazem dentro de mim, tipo carrinhos de montanha-russa prestes a descarrilhar a cada curva, como também bater nos carrinhos da frente, feito bate-bate. Mesmo após três anos dessa consulta, ainda penso nessas palavras... "você não é capaz de nomear seus próprios sentimentos". Me sinto desapontado, mas um desapontado diferente... Devo ter vantagem sobre quem sabe definir esse lance de sentir, ou talvez seja só meu ego amenizando a sentença. Whatever. Ainda bem que ninguém morre por não saber dizer o que se sente, eu acho. E me pego pensando nesse lance, saca?! Os terapeutas nos dizem cada coisa, um rótulo PESADO, uma bigorna sobre um protagonista de desenho animado. Tiro por exemplo um amigx que andava depressivo... Durante um diálogo nosso, elx me relatou várias vezes sobre a 'sentença recebida'. FULANX, VOCÊ ESTÁ COM DEPRESSÃO. E elx repetia isso, repetia, repetia e repetia, mas sequer percebia; óbvio que não eram repetições seguidas uma da outra, essa frase entrava sorrateira, periodicamente. Era natural, conscientemente, mas um grito desesperador em âmbitos mais profundos, porém externalizados ali, para mim, bem na porra da minha cara. Elx recebeu aquela sentença, aceitou aquela sentença e agora diz para todos que tem depressão, quase como se elx mesmo fosse a depressão, quase como um desejo sádico de finalmente conseguir se definir, de finalmente poder dizer para si e ao mundo 'eu sou algo'. Bom, sei lá, talvez essas merdas que eu disse não tenham nada a ver com nada, mas vai saber... Tem um lance na Cabala que eu adoro, que diz que nós nunca vamos conseguir externar em palavras o fator 'deus', ou cada vivência pessoal/emocional experienciada, pois as palavras são muito limitadas para tal, assim como a consciência humana. São mesmo. Que quarentena...
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(Junho/2020)