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#39 | ENFIM, DEZ/2020 [devaneios]


Arco-íris Duplo, 2020 (Vinhedo - SP)

⠀⠀Tenho muito para falar, pra valer, mas não tenho muito o que dizer, ou melhor, não formulo com precisão o que me toma o ar nesses últimos instantes de 2020. Últimos instantes cíclicos e mal customizados, renderizados porcamente pelo estagiário programador universal. Só me dei conta do fim do ano quando recebi um e-mail da Lottoland, me recomendando jogar na Mega da Virada. Eu, como bom apostador de loteria e vítima desse ano fodido, parei por um segundo durante o expediente e acordei, como expelido dum transe: ‘É NOVEMBRO (???)’.


⠀⠀Durante minhas observações, percebi ter uma queda por comparações e comparativos. Comparei com o bolão do ano passado, da Mega, que mais parecia ter acontecido no mês passado. É um ano paradoxal. Foi um ano paradoxal. Está sendo um ano paradoxal. Vivo dias que parecem meses, meses que parecem dias e dias que parecem minutos. Devo ter me perdido em algum ângulo obtuso desse rolê todo, ou quem sabe me achei; paradoxo; numa sala de espelhos.


⠀⠀Apesar dos pesares bostonaristas, foi um mergulho que não dá pé dentro de mim, fui obrigado a aprender a nadar, a ver todas as minhas faces por ângulos antagônicos, corais, monstros abissais, seres venenosos, vida in natura.


⠀⠀Apesar de vários afogamentos, o renascimento, Fenix aquática encerrada entre quatro paredes, morrendo e renascendo a cada pensamento involuntário de um passado mal passado que não me serve mais. Nunca gostei de coisa mal passada, não seria agora que mudaria meu paladar.


⠀⠀Como brinde pela resistência, transbordei em novas perspectivas, mas muitas vezes dei braçadas no raso do copo meio vazio, e posso dizer que está tudo bem. O autoconhecimento é um prato caro e apimentado demais para se comer numa garfada só, carece de pança vazia, a um ponto em que sua vida dependa exclusivamente disso para encher os pulmões de ar, como gente perdidamente soterrada por um amor platônico adolescente, querendo arrancar o coração do próprio peito e entregar aos porcos; o autoconhecimento é doloroso, carece de muita fome e necessidade para ser vivenciado.


⠀⠀Assumo minhas críticas ao ano, foram muitas afinal, mas compartilhadas de forma generalizada com os seres humanos encarnados nesse espaço-tempo, você não pode negar esse fato. Felizes dos animais que não se valem pelo calendário gregoriano, a ignorância liberta.


⠀⠀Graças a escuridão desses dias, vejo minhas estruturas de formas claras e reais. Procurei me fechar ao amor para me amar mais, e por longos meses de desconstrução, passo a questionar o porquê de ter me sujeitado a tantas coisas e pessoas que não agregavam em nada além de ansiedade e decepção.


⠀⠀Fico feliz pelo meet com minha finitude, olho no olho com a pequenez e a grandeza inexplicável que o fato de existir acopla no pacote. Se assim é, se assim somos, se assim seremos, pra quê tanta pressa? A vida está aí para ser presenciada em suas mais variadas nuances; compreenda que nada disso faz sentido, e não me refiro ao texto em si, mas posso fazer referência de forma indireta, afinal, ele também está aqui.


⠀⠀PS. Não leia isso com olhos físicos, apenas com os olhos da alma. Feliz 2021.

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