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#017 | COPA DOS ARVOREDOS [poema]


Jardim Botânico de Jundiaí, 2020

Lágrimas de um mundo insólito.

Segredos guardados em baús, lançados à eterna penumbra...

Cânticos louvados aos milhões.

Todos perderam sua valiosa oportunidade de manterem-se calados.


Enquanto as bocas bradam aos berros seu único meio de fuga,

As coisas continuam... O sangue corre solto.

O limite da alienação é ilimitado.

Forma de se minimizar o sentimento de derrota dentro de si mesmo.


Vida longa às massas,

Seguindo a antiga tradição da autoderrota generalizada.

Perdeu-se o sentido da realidade.

Não há ninguém na porta.

Estão infiltrados na caixa preta reluzente.


Suas revoltas duram o período exato de quatro anos,

Esqueceu-se de tudo?

As revoltas, as glórias, a luta, os reis do tabuleiro de terra e água.

Alguém encontrou a maçaneta...

Já invadiram sua casa,

Usam suas roupas,

Abusam de sua mulher,

Comem em sua mesa...

E residem na pasta de dentes

Que te faz sorrir escancaradamente a sua vergonhosa humilhação.


Enquanto o tempo passa,

Bilhões correm a solta,

Em plano de fuga por dois míseros meses.

Você os assiste ganhando de seu espírito de porco

E ainda comemora e se emociona com a vitória de seu derrotador.

Não, ele não se importa.

Não, ele nunca se importou.


Seu sangue foi vendido,

Suas verdadeiras cordas vocais foram sequestradas por um plano banal.

Seus discursos em frente ao espelho

Deixaram de ser algo tão comum assim...

Você abriu mão de sua pele,

De sua dignidade,

Gigante dignidade pela própria natureza.

A mesma que já se perdeu.


Enquanto comemoram,

As festas, os dias, as ‘ficadas de janela’,

Tudo continua igual.

Tudo continua miseravelmente igual.


Sua pele doce,

Seus lábios carnudos...

Estão te usando, mas tola,

Não enxerga, pois taparam seus olhos azuis...

Agora tão desnecessários olhos azuis,

Incapazes sequer de enxergar a armadilha penumbrosa de seus malfeitores.


Vidas foram interrompidas,

Lágrimas foram derramadas para o circo bilionário.

Coisas foram feitas,

Atrocidades encobertas pelo sorriso e dinheiro do grande gado.


“Que os tímpanos estourem com a vibração!

Nada nos matará,

Apenas nos completará...”

Assim dizia o grande pastor das tolas fabricações em série.


Escarraram em sua cara.

Como não consegue enxergar?

Estão te afundando em um buraco sem fim...

...enterrando-o como indigente.


Não sorria, não brinque de amarelinha,

Verdinha, tampouco azulinha.


Sim,

Estamos colorindo o nosso próprio fim

Com as cores de nossa pobre nação.


Olhem às árvores...

Estarão elas ofendidas com a comparação?

________________



Nota: Produzi o texto acima no ano de 2014. Foi um desabafo àquela época, onde sediamos a Copa do Mundo com bilhões de reais direcionados aos estádios de futebol, em meio a crise econômica instalada naquele ano. Percolando a temática da Copa, procurei evidenciar o 'Pão e Circo' das grades mídias e corporações, além da cegueira generalizada [e enraizada] na nossa sociedade.



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